MASSARANDUBA / ALAGADOS
Tendo o seu nome retirado das árvores que cresciam entre o massapé,
cujos frutos eram disputados pelas crianças, o bairro da Massaranduba
está localizado na Peníssula Itapagipana entre os bairros da Ribeira,
Bonfim, Jardim Cruzeiro e o mar da Baía de Todos os Santos. Suas
primeiras habitações foram erguidas sobre o mangue e se constituíam de
palafitas. No século XX, por volta da década de 40, o bairro foi
aterrado com entulhos trazidos da praia da Ribeira, tendo a sua
urbanização iniciada na década seguinte. Suas ruas planas, como todas
as outras da peníssula, respiram ares de cidade interiorana. As praças
da Redenção e Massaranduba e a igrejinha de São Jorge são pontos de
lazer e devoção para os seus moradores.
Em 1949, foi ano de duas festividades marcantes: o Quarto Centenário de
Fundação da Cidade e o Primeiro de Nascimento do Jurisconsulto Ruy
Barbosa. Neste tempo, os contrastes da cidade ficavam cada vez mais
aparentes e eram traduzidos nas diferentes formas e locais de moradia.
Situado às margens do Caminho de Areia, local conhecido como Jardim
Cruzeiro, as moradias começavam a avançar mar à dentro. Os invasores,
para se protegerem das constantes ações de despejo, deram ao local o
nome de Villa Ruy Barbosa. A estratégia deu resultado e constrangeu as
ações do poder público contra uma Villa que levava o nome do
Jurisconsulto, no ano do seu centenária.
Começava, assim, a formação dos Alagados.
Alagados traz em si a poética triste da pobreza de Salvador. Viver na
maré, construir o lar em cima das águas, em cima da lama, apresenta,
não só os contrastes da cidade, mas, principalmente, a criatividade e o
desespero de ter o sonho da própria casa.
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Área
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PENÍNSULA E COMÉRCIO |
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Depoimentos
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"Todo turista em Salvador vinha conhecer os Alagados. Tinha fila de ônibus pra explorar nosso sofrimento."
Margarida Oliveira dos Santos - Sociedade 1.o. de Maio - Novos Alagados
(Quem faz Salvador, 2002, Cd-Room, Ufba)
"Se a gente começar a trabalhar aqui a gente vai crescer, vai
enriquecer.... não em dinheiro, mas em instrumentos... a comunidade vai
se tornar muito boa. O que está faltando é investimento. As pessoas
olharem para a comunidade de Novos Alagados com uma visão diferente."
Jorge Ravinny - Liderança cultural de Boiadeiro/Plataforma
(Quem faz Salvador, 2002, Cd-Room, Ufba)
"Descobri meu lugar, e daqui ninguém me tira"
Maria José Da Silva Rocha - Agente de saúde e do Programa de Redução de Danos do CETAD - Boiadeiro/Novos Alagados.
(Quem faz Salvador, 2002, Cd-Room, Ufba)
"Muitos tinham vergonha de dizer que residiam aqui. Alguns preferiam
saltar do ônibus muito longe de casa e vir andando para não dizer onde
moravam."
Idelson Moura de Almeida - Sociedade 1.o. de Maio - Novos Alagados
(Quem faz Salvador, 2002, Cd-Room, Ufba)
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Na Mídia |
:: CARÊNCIA E EXCLUSÃO SOCIAL NA MASSARANDUBA
A TARDE, 23.10.1999, p. 4, Eduarda Uzêda
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:: BATENDO LATA
CORREIO DA BAHIA, 15.12.2004, Aqui Salvador, p. 8, Jane Fernandes
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:: ALAGADOS: NA MAIOR FAVELA DO PAÍS UM DESAFIO À CIVILIZAÇÃO
Diário de notícias, 13.10.1976, Caderno
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:: FESTA EM NOVOS ALAGADOS
CORREIO DA BAHIA, 20.12.2006, Aqui Salvador, p. 8, Mariana Rios
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Atrativos
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- CINE-TEATRO ALAGADOS
O Cine-teatro Alagados foi fundado em 28 de janeiro de 1982, próximo ao
fim de linha do Uruguai. Apesar do nome, a programação do espaço se
restringiu à exibição de filmes, a exemplo de A Grande Feira, A Rosa,
Os Trapalhões.
Em nenhum momento grupos de teatro de Alagados utilizaram o
cine-teatro. Em 1987, com a mudança de governo, o imóvel foi abandonado
e em pouco tempo as ações de vandalismo fecharam as portas do
Cine-Teatro Alagados. Na década de 90, o prédio, ainda degradado,
passou a ser ocupado pela Associação de Capoeira Filhos do Sol Nascente.
- IGREJA NOSSA SENHORA DOS ALAGADOS
A Igreja de Nossa Senhora dos Alagados foi inaugurada pelo papa João
Paulo II em 07 de julho de 1980, quando visitou a Bahia, em ato
transmitido para quase todo o mundo católico. Tem um estilo
arquitetônico moderno, embora com três abóbadas e quatro arcos, além de
um jardim interno através da nave central. Construída na parte alta do
Uruguai, vizinha à região de Alagados, a igreja é um dos maiores
referenciais do bairro. A área ocupada hoje pelo templo e construções
adjacentes corresponde ao que antes era a Ilha de Santa Luzia, que
desapareceu com o processo contínuo de aterro. A imagem de Nossa
Senhora dos Alagados foi produzida pelo escultor Manuel Dantas.
- BAGUNÇAÇO
O Centro Cultural Bagunçaço é uma entidade civil sem fins lucrativos,
que teve início em 1991 quando um morador do local, Joselito Crispim
Assis, sentiu a importância das brincadeiras com latas de grupos de
crianças nas ruas. A idéia era organizar a bagunça sonora produzida por
estes grupos e angariar o apoio da comunidade. Hoje é considerado um
dos centros da comunidade de Alagados.
Muitos jovens têm acesso a uma biblioteca, a aulas de cidadania
envolvendo atividades educativas diversas como teatro e oficinas de
reciclagem de lixo. Há também um movimento ecológico criado pelo
Bagunçaço que é o Projeto Ilha do Rato, que luta pela preservação da
pequena ilha localizada no meio dos Alagados.
Além da Banda de Percussão Bagunçaço, formada por adolescentes que
utilizam instrumentos confeccionados por eles mesmos, a partir do
reaproveitamento de embalagens usadas, tonéis de carbureto, latas de
manteiga, de solvente, de biscoitos importados transformam-se em
música. A partir dessa banda, muitas outras surgiram (a banda
Dilatasom, Banda Explode e a Sucatamania, por exemplo), sempre com o
mesmo princípio de reaproveitamento do lixo, para confecção dos
instrumentos.
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Personagens
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- MÃE AMÉRICA
América do Carmo Santana Cabral, ou Mãe América como é conhecida no
bairro da Massaranduba, tem 80 anos e é mãe de santo, filha de Iansã.
Conhecida como uma mulher lutadora, Mãe América é respeitada na
comunidade em que vive, por sua austeridade, firmeza e força. Sua
história de vida é marcada pela incompreensão da família quanto à sua
opção religiosa e seu comportamento, que desde a infância revelava uma
ligação com o sobrenatural. Criada pela mãe e padrasto católicos,
chegou a ser levada para morar no Convento das Mercês, onde permaneceu
por apenas seis meses. Ao ser rejeitada pela família, passou a viver
perambulando pelas ruas, até conhecer Dona Estelita, mãe de santo, que
a acolheu em sua casa e lhe deu ensinamentos sobre o candomblé.
Mãe América se tornou uma vendedora de acarajé muito conhecida e
elogiada, tendo sucesso em seu empreendimento. Pessoas de diversos
bairros iam até a Massaranduba em busca dos quitutes preparados pela
baiana. Caridosa, ajudava pessoas doentes e necessitadas
financeiramente, atitude que a aproximou de Irmã Dulce, quem considera
uma grande amiga. Comandando o Terreiro Ilê Asé Ogunjá Tiluaiê Orubaia,
Mãe América passou os ensinamentos do candomblé para seus filhos e
aprendizes, mas sua família é marcada pelo sincretismo religioso, pois
entre os seus 16 filhos tanto há seguidores do candomblé, como também
do catolicismo, como o padre Clóvis Cabral. Mestre dos preceitos do
candomblé, Mãe América transmite não apenas os conhecimentos
espirituais, mas a sabedoria que adquiriu na sua longa e difícil vida.
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